Qual a relação entre ‘oversharing’ de dados e IA?

 


Por Leonardo Cooper*

É fato que a Inteligência Artificial (IA) está revolucionando a cibersegurança. Recente estudo do Gartner aponta que a IA generativa é uma das nove tendências de soluções deste ano em cibersegurança para o aprimoramento de soluções de defesa. No entanto, como toda inovação, a IA traz riscos relacionados ao aumento da sofisticação dos ataques e ao compartilhamento indiscriminado de dados.

Venho observando que o "oversharing" de dados, ou compartilhamento desnecessário de informações, é um problema recorrente. Documentos que deveriam ter sido excluídos, credenciais compartilhadas sem necessidade e planilhas disseminadas sem critério são exemplos de práticas que passam despercebidas pelas pessoas, mas que a IA pode detectar e utilizar, ampliando o problema de forma exponencial. E para lidar com este excesso de conteúdo, é importante investir em esforços manuais para remover dados inúteis e vulneráveis e criar processos de classificação para dados desde a sua origem.

Nesse cenário, minha recomendação é assegurar que qualquer aplicação de IA em produtos de segurança seja abastecida com dados sem excessos. Além disso, a privacidade das informações precisa ser trabalhada de forma assertiva, uma vez que os atuais modelos de IA dependem de grandes volumes de dados para treinamento, muitas vezes incluindo informações sensíveis. Em resumo, é preciso intensificar os cuidados com a segurança dessas informações a fim de evitar violações e proteger a privacidade do usuário.

A IA não substitui o capital humano

Outro risco nos sistemas de IA está nas distorções que podem amplificar preconceitos presentes nos dados de treinamento, resultando em decisões injustas. Isso é especialmente preocupante em contextos de segurança de identidade, em que tais decisões têm o poder de conceder ou negar acesso a recursos. Vale considerar, ainda, que os sistemas de IA são vulneráveis a ataques adversários, cujas pequenas alterações nos dados de entrada podem enganar os modelos e levar a decisões incorretas. Ou seja, a falta de clareza ou a adulteração dos dados acessados colocam em xeque a transparência nas decisões tomadas pela IA.

 

Devemos levar em conta que produtos baseados em IA precisam atender a requisitos legais, como a LGPD e outras exigências regulatórias. Por isso, o excesso de compartilhamento de dados é um gargalo importante na integração da IA - tornando essencial reavaliar a arquitetura da informação antes de se implementar essa nova tecnologia.

Além disso, a dependência excessiva da IA pode levar à negligência de outras práticas importantes de segurança. A supervisão humana permanece fundamental para interpretar corretamente os resultados da IA e responder de maneira eficaz a incidentes.

Oportunidades

Superar esses desafios é crucial para o desenvolvimento de soluções de segurança robustas e confiáveis. Apesar das dificuldades, as oportunidades oferecidas pela IA são vastas, especialmente na gestão de identidade e acesso.

Quando bem implementada e com a utilização correta dos dados, a IA pode revolucionar a análise comportamental na cibersegurança, permitindo uma detecção mais precisa de anomalias nos padrões de uso e identificando ameaças como tentativas de acesso não autorizados. Ainda, é capaz de automatizar a avaliação de riscos em solicitações de acesso, criando controles de acesso dinâmicos ajustados ao nível de risco.

A capacidade dos algoritmos de IA de aprender continuamente, também permite a detecção preditiva de ameaças, assim como promove respostas a incidentes de forma aprimorada por meio de execução automática de ações predefinidas - como o bloqueio de acessos ou a revogação de permissões.

A IA e o gerenciamento de acessos privilegiados

O gerenciamento de sessões em sistemas de Gerenciamento de Acesso Privilegiado (PAM) também se beneficia da IA, que pode identificar comportamentos suspeitos em tempo real, emitindo alertas ou encerrando sessões automaticamente. E a IA ainda pode analisar padrões de acesso e recomendar permissões de forma inteligente, agilizando o processo de provisionamento e garantindo a segurança dos recursos críticos da organização.

Em conclusão, a IA está transformando a cibersegurança, mas é vital adotar uma abordagem cuidadosa. Questões como o oversharing e a falta de transparência precisam ser resolvidos para que a adoção dessa nova tecnologia seja verdadeiramente benéfica.

*Leonardo Cooper, CEO da VaultOne, empresa de cibersegurança especializada em tecnologias de Gerenciamento de Acesso Privilegiado (PAM) e proteção de identidades

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
Bio Caldo - Quit Alimentos
Canaã Telecom