A proposta é rastrear e diagnosticar câncer de pulmão em estágio inicial, quando tratamento pode reverter a situação
Em todo o mundo, o câncer de pulmão está entre as formas da doença que mais causa vítimas fatais. Entre homens e mulheres, essa doença causa aproximadamente 1,8 milhão de mortes por ano, conforme levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado em 2020.
No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) trata-se da neoplasia mais fatal entre a população, com cerca de 12 mortes a cada 100 mil habitantes. Mesmo com números tão altos, a medicina tem evoluído quando se fala em diagnóstico e tratamento deste malefício.
Uma descoberta de dez anos atrás tem feito a diferença atualmente, principalmente para aqueles que apresentam predisposição à doença, tabagistas e ex-tabagistas. Estudos publicados no New England Journal of Medicine demonstraram que o exame de tomografia de tórax de baixa dosagem tem reduzido a mortalidade em 20% dessa parcela da população, comprovadamente mais propensa a desenvolver a doença.
Com base nessas informações, o Hospital Brasília Unidade Águas Claras – pertencente à Dasa, maior rede de saúde integrada do país – vai iniciar, a partir de 1 de fevereiro, o Programa de Rastreio de Câncer Pulmonar, voltado a toda a população do Distrito Federal.
O rastreamento de câncer de pulmão baseia-se na realização seriada de tomografias de tórax com baixa dose de radiação. “O benefício do exame já está bem estabelecido em grandes estudos clínicos, e certamente supera os riscos, que são muito pequenos”, explica Wagner de Paula, radiologista do Exame Medicina Diagnóstica, também pertencente à Dasa.
“As recomendações atuais indicam um exame a cada 12 meses para pacientes que se enquadram nos critérios de alto risco e cujos exames são negativos. Dependendo dos achados em um exame, pode ser necessário um controle mais precoce ou outros procedimentos diagnósticos”, completa o especialista.
Segundo Julio Mott, cirurgião torácico e diretor geral do Hospital Brasília Unidade Águas Claras, fumantes, ex-fumantes e quem possui histórico familiar de câncer de pulmão deve fazer o exame de prevenção a partir dos 50 anos “O recomendado é repetir o exame anualmente até os 80 anos de idade”, observa. A tomografia de tórax de baixa dosagem permite diferenciar nódulos pulmonares benignos de malignos e também rastrear os nódulos suspeitos que possam resultar em uma neoplasia maligna, que, quando diagnosticada precocemente, tem grande chance de tratamento e cura.
O início do programa está previsto para fevereiro, com a proposta de atender, com uma equipe multidisciplinar e equipamentos de última geração, pacientes que são grupo de risco. “O atendimento é feito por profissionais de pneumologia, cirurgia torácica, radiologia e outras especialidades correlatas, para identificar lesões precoces. Eventualmente pode ocorrer a necessidade de biópsia, realizada de forma minimamente invasiva, cirurgia por video ou robótica, bem como outros procedimentos invasivos. Por se tratar de uma doença potencialmente grave, todo o processo no rastreamento do câncer de pulmão deve ser rápido”, esclarece Julio Mott.
Recomendações – Os principais causadores do Câncer de Pulmão são o cigarro e demais derivados do tabaco. Por isso, o exame de detecção deve ser feito exclusivamente por pessoas que ainda consomem ou consumiram tabaco nos últimos 15 anos, mesmo que não haja nenhum tipo de sintoma ou incômodo ligado à respiração. A Dra. Gilda Elizabeth, pneumologista do Hospital Brasília Unidade Águas Claras, lembra que nódulos pulmonares são silenciosos, ou seja, em estágio inicial não apresentam sintomas, por isso a necessidade do rastreio.
“No caso de pacientes tabagistas, também é possível identificar outras doenças, como Enfisema Pulmonar e Bronquite Crônica, que potencialmente podem se agravar. Aos que ainda não pararam de fumar, a regra é clara: mesmo que não haja sintomas, limitações de atividade de vida diária e os exames não acusem lesões, é muito importante interromper o consumo do cigarro, imediatamente”, recomenda a pneumologista.
“Além da prevenção, diagnóstico e tratamento, buscamos conscientizar e convidar nossos pacientes a fazerem o tratamento para acabar com o tabagismo, fator causador de aproximadamente 50 outras doenças incapacitantes e fatais, como câncer, doenças cardiovasculares e doenças respiratórias crônicas”, ressalta a Dra. Gilda Elizabeth.