A pandemia trouxe novas necessidades, além de amplificar as que já existiam no ambiente escolar, e acelerou a revolução digital na Educação. O fechamento das escolas virou toda a comunidade escolar de cabeça para baixo. O currículo não estava adaptado para um novo formato, bem como os professores não estavam preparados para ensinar de maneira remota. Uma pesquisa do Instituto Península revelou que, após seis semanas de isolamento, 83% dos professores brasileiros ainda se sentiam nada, ou pouco, preparados para o ensino remoto. Quase 90% dos docentes nunca tinham dado aula virtualmente antes da pandemia e 55% não tiveram qualquer suporte ou capacitação durante o isolamento social para ensinar fora do ambiente físico da escola.
Já os estudantes, em suas casas, precisaram de muito mais do que uma conexão wi-fi e uma tela para absorver o conteúdo das aulas remotas. Acostumados com milhares de estímulos simultâneos, vimos que é muito difícil mantê-los concentrados por 50 minutos em uma única tela. E os menores, em fase de socialização e alfabetização, tiveram que aprender a brincar e a ler as primeiras palavras à distância. As escolas e os educadores perceberam, então, que a transformação digital não se resume a aplicar a mesma aula em formato digital, mas sim a uma mudança cultural (e estrutural) na maneira de ensinar e aprender dentro e fora da escola.
Com o tempo, a tecnologia se tornou a mais poderosa aliada da escola e dos estudantes, digitalizando diversos processos de aprendizagem. Educação 4.0 e 5.0, realidade virtual, computação em nuvem, IoT, gamificação, ambientes virtuais de aprendizagem, redes sociais, bibliotecas virtuais, realidade aumentada, m-learning, u-learning, metodologias ativas e tantos outros conceitos foram sendo incorporados às práticas de ensino, com o objetivo de reduzir distâncias, aumentar o engajamento, personalizar o aprendizado, facilitar o acesso ao conhecimento, melhorar o desempenho, aumentar o alcance e garantir resultados melhores para todos os envolvidos.
Diante desse cenário, a mudança das escolas e seus mindsets para se adaptar à transformação digital é fundamental. O erro mais comum, porém, não é a resistência à digitalização de processos. A tecnologia, por si só, não é suficiente para a transformação digital. Porque a tecnologia não funciona se o ser humano não souber fazer uso dela. Ou seja, não adianta implantar os melhores materiais didáticos, com recursos de realidade aumentada, gamificação e inteligência artificial, se não tivermos professores capacitados e alunos preparados para usar toda essa tecnologia em benefício do aprendizado. Um plano efetivo de integração de tecnologia requer a participação de todos. É uma mudança estrutural nas escolas, que deixam de ver a tecnologia como um recurso pontual para utilizá-la no cotidiano.
A transformação digital na Educação abrange a complexidade de repensar os processos, os modelos de negócio e a experiência dos alunos, familiares, professores e demais agentes da comunidade escolar por meio de uma completa imersão na tecnologia digital. Os estudantes precisam compreender que esse novo cenário traz mais autonomia para o aprendizado, permitindo que eles tenham um papel de protagonismo. Além disso, os professores devem reconhecer a flexibilidade que a tecnologia oferece, além dos recursos que qualificam os métodos de ensino, produzindo resultados mais satisfatórios.
Importante ter em mente que a transformação digital da escola não acontece de uma só vez, nem tem data para terminar. Ela acontece todos os dias, o tempo todo. É uma adaptação às exigências e às novidades do mundo. É um processo que acontece ao vivo e fica ultrapassado rapidamente. O que não pode sair do foco é a qualidade do serviço educacional prestado. Os alunos devem sentir que estão aprendendo tanto quanto, ou mais, do que antes.
No Brasil, os desafios ainda são gigantes. Mas uma coisa é certa: a tecnologia veio para ficar e não existe mais escolha: nós teremos de nos reinventar. A Educação nunca mais será como antes e não é mais possível voltar atrás. Sejamos todos bem-vindos à Nova Educação.
* Daniel Gonçalves Manaia Moreira é diretor geral da Positivo Soluções Didáticas.