Testes in vitro comprovaram redução de carga viral e efeito neuroprotetor em células cerebrais. Trabalho foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature
Foto: Audrey Luiza
Pesquisa do Laboratório de Imunologia e Inflamação da Universidade de Brasília (Limi/UnB) concluiu que o óleo de peixe ômega-3 consegue proteger neurônios contra morte celular, estresse oxidativo e inflamação causada pelo vírus zika. A resposta anti-inflamatória e neuroprotetora sobre o Sistema Nervoso Central (SNC) leva a crer que a substância pode ser utilizada como auxiliar nas terapias antivirais combatendo o efeito tóxico causado pelo vírus às células ou no tratamento de outros aspectos afetados, como a fertilidade masculina.
O estudo começou como parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e hoje continua como tema da dissertação de mestrado da estudante Heloísa Braz de Melo no programa de Pós-Graduação em Patologia Molecular da UnB, orientado pela professora Kelly Magalhães.
Durante a pesquisa, que rendeu publicação na revista Scientific Reports, do grupo Nature, uma das mais importantes na área internacionalmente, Heloísa caracterizou os mecanismos pelos quais o ômega-3 protege as células neuronais. “Começamos com uma pergunta pequena e depois a ampliamos. Hoje temos outras três pesquisas trabalhando com essa associação”, relata a orientadora.
Entre os possíveis efeitos do uso do ômega-3, estão o uso preventivo e como auxiliar antiviral, atuando na redução da carga viral e diminuição da inflamação e danos celulares em neurônios humanos. No laboratório, há ainda trabalhos em andamento que estudam o efeito do ômega-3 contra a infertilidade masculina causada pelo vírus.
A transmissão do vírus zika acontece por meio de picada do mosquito Aedes aegypti, de relação sexual e da mãe para o bebê durante a gestação. Vale ressaltar que os sintomas da infecção pelo zika (vermelhidão pelo corpo, febre e coceira são os mais comuns) duram em torno de sete dias, mas a transmissão sexual pode ocorrer por cerca de seis meses a um ano após a infecção.
Heloísa Braz de Melo (à esquerda) e pesquisadores do Laboratório de Imunologia e Inflamação relacionam ômega 3 e o vírus zika. Foto: Audrey Luiza.
RESULTADOS – Heloísa passou dois anos da graduação em Biotecnologia fazendo as caracterizações e analisando a resposta inflamatória do ômega-3 nos contextos de câncer, obesidade e inflamação. Pesquisas anteriores demonstraram que o ômega-3 é neuroprotetor e também anti-inflamatório. Esses indícios positivos levaram as pesquisadoras a, no início do surto de zika, decidirem analisar se a substância poderia ser também protetora contra essa infecção viral. “Foi aí que decidimos juntar as duas coisas e esse foi o grande diferencial do trabalho. Elas nunca foram estudadas juntas antes”, lembra Kelly.
À época do surto em 2015-2016, a pesquisa teve auxílio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF), do Programa Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Saúde, bem como da agência Britânica Welcome Trust. Ainda assim, a obtenção de financiamento científico tem sido desafio constante. “No cenário nacional da ciência brasileira, esse é o principal obstáculo para o avanço da pesquisa”, afirmou Kelly Magalhães. Ela acredita que o estabelecimento de parcerias científicas permite driblar a escassez de financiamento, além de ser estratégia importante para enriquecer a qualidade do trabalho.
Testes in vitro indicam que o ômega-3 consegue proteger os neurônios contra a morte celular, estresse oxidativo e a inflamação causada pelo vírus. Arte: Igor Outeiral
PARCERIAS – Em um cenário de sucessivos cortes nas verbas disponíveis para pesquisa, os pesquisadores consideram necessário o estabelecimento de laços entre instituições. A caracterização dos experimentos de carga viral da pesquisa foi realizada no Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen/DF) com o auxílio de Paulo Prado, chefe da Virologia à época.
“A Polimerase Chain Reaction (PCR) é uma metodologia que amplifica o material genético da amostra e assim permite a detecção e quantificação do DNA”, explica Prado, que é mestre em Medicina Tropical pela UnB. Ele conta que Heloísa utilizou também kits específicos para extração de RNA viral.
“Sem as colaborações que estabelecemos, parte importante do nosso trabalho não conseguiria ser respondida, como a PCR feita no Lacen”, lembra a mestranda. Durante a realização dos experimentos, Heloísa usou equipamentos que não existem no Limi, que não tem verba suficiente para obtê-los no momento.
Cápsulas de ômega-3 usadas pelos pesquisadores tem altos níveis de DHA. Foto: Audrey Luiza.
“Para nós do Lacen, já que não temos o cargo de pesquisador, é interessante fazer esse tipo de parceria”, acrescenta Prado. Ele acredita na execução de políticas públicas em conjunto com outros órgãos como fator crucial para o desenvolvimento de pesquisas. "Sempre há um servidor do órgão supervisionando o uso do equipamento, e os dados científicos são compartilhados, possibilitando os avanços da ciência", explica.
Na UnB, as parcerias foram com o Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina, por meio da professora Andreza de Bem, onde foram realizados os ensaios de respirometria, que demonstraram a disfunção de mitocôndrias, causada pelo vírus; e com o Departamento de Nutrição da Faculdade de Ciências da Saúde, por meio da professora Nathália Pizato.
Após a publicação na revista considerada Qualis A1 – que contempla periódicos de excelência internacional – pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC), pesquisadores e universidades de outros países já procuraram as cientistas para o estabelecimento de novas parcerias e trabalhos nessa área.
Texto: Thaíse Torres.
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