A transferência da capital brasileira do litoral para o interior propicia a análise de duas escalas espaciais: a mais ampla, que envolve a mudança do padrão de povoamento do território brasileiro e, em âmbito mais restrito, o padrão de ocupação do Distrito Federal e de sua área metropolitana (informal)
Foto: Marcos Reis.
Antes da mudança, o Brasil ocupava a faixa costeira que concentrava 80% da população. Ao ser transferida do Rio de Janeiro para Brasília, a capital federal teve o mérito de deslocar o povoamento para o oeste. Mato Grosso e Goiás passaram a desenvolver suas potencialidades agrárias - pecuária e agricultura extensivas -, e atraíram capitais e correntes migratórias. As cidades cresceram. Goiânia desenvolveu os serviços de apoio para a atividades rurais com crescimento exponencial, assim como Brasília. Em 1960, o DF passou a contar com mais de 140 mil habitantes, isto é, um quinto do imaginado no início.
Brasília, ao completar 60 anos, segundo estimativa do IBGE, conta com 3.129.761 habitantes, a maior parte residindo em 34 Regiões Administrativas. Pesquisas recentes da Codeplan revelam que 12 municípios goianos, com 1.265.211 habitantes, mais o DF, constituíram, informalmente, a área metropolitana de Brasília (AMB). A AMB dependente de Brasília em relação às oportunidades de trabalho e obtenção de serviços, sobretudo na área educacional e de saúde. Com isso, formou-se um aglomerado urbano com 3.854.972 habitantes, o que confere à Grande Brasília complexidade funcional equivalente à das maiores metrópoles brasileiras.
Portanto, passadas cinco décadas, a construção de Brasília ensejou benefícios para a ocupação do território nacional, cujo eixo de povoamento se deslocou para o oeste. Hoje, se avaliam os prós e contras da mudança da capital, em termos de desenvolvimento regional e dos ganhos que Brasília ensejou para o país e, em especial, para a AMB. A favor da mudança enumeram-se: o país modernizou-se sob o influxo do urbanismo e da arquitetura moderna, ensejou que muitas metas do governo JK fossem materializadas, como a ampliação da malha rodoviária, a implantação da indústria de base e automobilística, da indústria naval, a ampliação da exploração petrolífera e da geração de energia elétrica, desenvolvimento de agricultura para a exportação de grãos etc.
Argumentos contra vicejaram na imprensa, antes, durante e após a construção de Brasília. Em parte, os argumentos se apoiavam no processo inflacionário que o “esforço concentrado” possibilitou. Denunciava-se igualmente a falta de controle dos gastos, que ocasionaram inflação, desvios e corrupção. Todavia, a oposição mais contundente era feita no Rio de Janeiro, pois a antiga capital perderia status, antecipava esvaziamento, o que, de fato, acorreu pela transferência do poder central, ministérios e funcionalismo para Brasília. Na perspectiva de nossos dias, percebe-se que muitas dessas questões foram superadas na evolução socioespacial. Há, todavia, que se frear a formação outros núcleos no DF apenas para moradia. Um novo modelo deverá incentivar a oferta de trabalho nos núcleos existentes. Essa medida, por certo, aliviará a prematura congestão urbana em Brasília.
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