Do Político à Política: o Politizar


Este artigo de opinião é quase desabafo. É resultado da experiência como assessor parlamentar, dos calados bastidores dos deputados e deputadas. Ele surgiu de uma vez só, no intervalo de uma sessão plenária, depois ouvir, durante vários dias, falas mesquinhas de alguns parlamentares

Por Rafael Giovanetti Teixeira 

O liberalismo é uma teoria tão mesquinha quanto contraditória. Defender o indivíduo isolado da sociedade é uma armadilha tão mesquinha quanto eficiente, que o liberalismo utiliza para impregnar corações e mentes. Entretanto, essas ideias não passam de falácia, uma teoria falida e contraditória. A realidade a refuta a cada dia.

Nunca existiu e nunca existirá um país liberal. A própria concepção de Estado prevê inúmeras barreiras – de mercadoria, de capital e de pessoas -, é constitutivo de todo Estado, e não existe Estado-mínimo que mudará isso. Aliás, o Estado já é mínimo para os pobres, que ficam sem políticas sociais, somente com a repressão policial, o mínimo estatal defendido por essas ideias.

Os países desenvolvidos usam a retórica do liberalismo para manter as desigualdades políticas, econômicas e sociais entre os países no mundo. Países desenvolvidos, no centro do sistema global, são blindados pela sua história de proteção econômica e pelas suas barreiras alfandegárias formais e informais. Estes países defendem o livre-mercado para que os países subdesenvolvidos da periferia mantenham-se pobres. A brilhante ideia de livre mercado serve apenas para falir toda indústria local.

A substituição de exportação de produtos primários pela importação de tecnologia externa é a grande desgraça dos países subdesenvolvidos. Quanto custa uma tonelada de soja hoje no Brasil? Pouco mais de mil reais, nobres deputados e deputadas. Quanto custa um smatphone desses que vocês tem no bolso? Pois é, quanta terra é degradada para se plantar uma tonelada de soja? O Brasil pede socorro.

Precisamos de industrias de tecnologia, de preferência que sejam estatais! A Petrobras, uma das maiores empresas de petróleo do mundo, que com tecnologia nacional, desenvolvida pelas universidades federais brasileiras tornou-se a primeira empresa do mundo a explorar petróleo abaixo das camadas de sal oceânicas. Além de explorar petróleo, estávamos refinando petróleo, nossa gasolina ficaria mais barata com refino próprio. Mas o golpe de 2016 contra um projeto de Estado e de nação, vem vendendo uma das maiores riquezas do povo brasileiro.Não precisamos de livre-mercado, o livre-mercado é um desastre! A não distribuição de comida no mundo é um desastre, um holocausto silencioso. Mariana e Brumadinho foram e continuam sendo um desastre. Quiça com nossa antiga Vale do Rio Doce, o nosso Rio Doce ainda estaria vivo.

O axioma principal do liberalismo, uma ideia mesquinha de individualismo é tão contraditória e insustentável que um simples exemplo pode refutá-la. As pessoas não existem fora da sociedade, são seres sociais, a sociedade compõe as pessoas em grupos. Se há um grupo de pessoas que defendem o liberalismo, o individualismo dos liberais é aglutinado e transformado em grupo, com identidade e interesse coletivo, nada individual, que pena.

Uma classe de pessoas e países ricos e bem confortáveis em seus privilégios defendem esses ideais individualista para manter seu status. Pessoas oprimidas pelas condições cotidianas tem seus corações e mentes impregnadas por essas ideias, vendo em um curto prazo uma saída mais fácil, mas sem sucesso de logro a longo prazo, mantendo suas classes subjugadas. Somente o coletivo consegue superação.

Pretendo com essas palavras demonstrar que sempre estamos em coletivo, em conflito de interesses. Mas mais do que isso, pretendo defender o coletivo, uma ideia de nação, em que todos cidadãos e cidadãs devem agir. Agir em defesa dos nossos interesses nacionais. Um Estado forte e eficiente para concorrer internacionalmente. Com solidariedade, com nossos vizinhos hermanos latino-americanos. Estatais em todas os setores estratégicos da produção. Soberania alimentar, comida sem veneno.

Devemos seguir o exemplo do país vizinho e irmão, a Bolívia de Evo Morales. País que fugiu dos ideais neoliberais e aplicou uma política de desenvolvimento, integração, soberania alimentar e mais Estado, chegando a instalar seu próprio sistema único de saúde. Há seis anos a Bolívia é o país que mais cresce na América Latina.

Mas, para isso, devemos conhecer as entranhas do Estado brasileiro, assim como conhecemos as nossas. Devemos ocupar todos os espaços., participar, fiscalizar, cobrar e garantir sua eficiência Porque há pessoas que não estão interessado na nação e sim em assuntos próprios, um individualismo mesquinho, liberal, que defende seus próprios interesses. Lucro acima de tudo, exploração acima de todos, é o que essas pessoas defendem.

Essa é a principal importância do Politizar, ensinar como funciona as entranhas da política brasileira, no Estado de Goiás: os ritos, a burocracia e os conluios pessoais, para que todos e todas, possamos agir. Foi isso que acredito que muitos buscaram aqui e que pessoalmente busquei como assessor: conhecer o interior da política. Mais que o conhecimento técnico da política, da sua institucionalização, os ritos, a burocracia, a parte formal de formatação das leis; o conhecimento do político foi o que mais me marcou.

‘O Político’ é marcado pelo antagonismo entre grupos de interesse. Esse antagonismo é abarcado por ‘a Política’, pelas instituições democráticas que ditam a regra do jogo. Pelo menos é o que defende os teóricos da democracia radical. Mas a política também de delimitada pelas ações do político.

Parlamentares escrevem leis a partir de seus interesses de classe; ‘lobbystas’, especialistas em relações governamentais, envolvidos com grandes grupos de interesse econômico, influenciam parlamentares e muito das vezes escrevem projetos de lei em seus interesses. O conluio parlamentar, os interesses de classe, as estratégias de voto valem muito mais que o teor da matéria. Não é o mérito que conta, mas os bastidores.

Não há espaço vazio na política e no político, política não é uma conversa de amigos. Não há imparcialidade e conhecimento estritamente técnico. Todo discurso é político, por mais imparcial que pareça. Entender isso tudo é essencial para todo cidadão, toda cidadão, brasileiro e brasileira. Tome partido e vá defender seus interesses, interesses de classe, raça, etnia, gênero, sexualidade, todos eles juntos ou separados, mas defenda.

Meu principal incômodo foi pensar na desigualdade de influência das classes sociais na política. Enquanto ricos empresários têm todo um aparato econômico e jurídico para influenciar as ações parlamentares e governamentais, os trabalhadores e trabalhadoras, ocupados quase 50 horas semanais com trabalho e transporte, mal consegue sobreviver.

A sociedade que coloca igualdade como princípio da liberdade, terá justiça social. A sociedade que coloca a liberdade antes da igualdade, manterá pobreza e a desigualdade.

Todo poder ao povo, venceremos.

Por Rafael Giovanetti Teixeira 

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