OPINIÃO: Dialogar exige ceder
junho 17, 2019
2:13 pm
Texto por Lara Fernandes Edição por Gabriela Macêdo
Diálogo, de acordo com o dicionário Michaelis, consiste na troca de ideias que tem por finalidade a solução de problemas comuns; consiste na comunicação. Infelizmente, na quarta edição do Projeto Politizar, o conceito de diálogo foi distorcido a fazer opiniões próprias serem ouvidas sem ouvir opiniões contrárias.
O Politizar é um ambiente de educação em que o âmbito legislativo estadual é simulado com objetivo de pensar um novo modo de fazer política sem os vícios tão recorrentes no “mundo real”. No entanto, o que foi percebido no projeto é que esses vícios estão entremeados profundamente até mesmo nas atitudes daqueles que se dizem dispostos a construir uma nova política.
Os deputados simulandos não perderam tempo em se dividir em esquerda e direita e trocar agressões entre ambos os lados. Ouvi de um deputado a fala de que ele não pagava por cargo apenas por não ter o dinheiro. Pude testemunhar a política de favorecer os que pensam semelhante e atacar os que se posicionam de maneira contrária. Mesmo com ótimos projetos de leis, as intrigas entre deputados foi o fator que se sobressaiu.
Em um ambiente considerado ideal e contrário à perversão presente nos poderes que governam a nação, os vícios foram repetidos não só pelos deputados, mas por toda a estrutura do projeto. Assessores, jornalistas e, inclusive, a coordenação não conseguiram se manter fora do ciclo vicioso e também cometeram erros. O famoso “jeitinho brasileiro”, que pode ser traduzido para a atualidade no meme “é proibido, mas se quiser pode”, foram repetidos durante as articulações dentro do projeto de uma forma velada, mas que definiu decisões.
A verdadeira intenção do Politizar, de promover diálogo para solucionar problemas sociais, econômicos e políticos, foi perdida no meio do caminho. O desejo por ver o plenário pegar fogo impediu a interação entre posicionamentos diferentes, mas que juntos poderiam se complementarem e trazer acontecimentos não-simulados bons para a sociedade.
Não nego o fato de que o projeto trouxe projetos de lei incríveis e visibilidade para problemas sociais antigos. Espero que os próximos simulandos priorizem ouvir antes de serem ouvidos. Dialogar é uma ação difícil, em que é preciso dar o braço a torcer. Como indivíduo, sei que é sempre doloroso não ter tudo do meu jeito. No entanto, a coletividade precisa diálogo e o diálogo exige sempre ceder um pouco de opiniões próprias para alcançar o bem maior.