Amamentação reduz risco de câncer de mama


Estudo publicado na revista médica European Journal of Cancer avaliou comportamentos reprodutivos em pacientes com Síndrome de Li-Fraumeni 

Existe no Brasil um grupo de pessoas, cerca de 0,3% da população do Sul e Sudeste do País, que tem uma alteração no DNA que predispõe o aparecimento de tumores, como câncer de mama em mulheres jovens, sarcomas e cancer infantil. Essas pessoas são portadoras da Síndrome de Li-Fraumeni (SLF), caracterizada pela ocorrência de tumores a partir de uma idade muito precoce.

Dado a idade precoce e alta incidência de câncer de mama nessa população, cientistas estudaram mais a fundo os fatores reprodutivos e riscos em mulheres com SLF. O resultado desse trabalho foi publicado recentemente na revista médica European Journal of Cancer, realizado pelo National Cancer Institute, nos Estados Unidos, e foi coordenado pela Dra. Maria Isabel Achatz, pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa e coordenadora da Unidade de Oncogenética do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. "No encontro de adolescentes com SLF, uma moça de 18 anos me perguntou se tomar anticoncepcional aumentaria seu risco para ter cancer de mama", explica a médica. "Como não havia resposta para esta pergunta na literatura médica, conduzimos uma análise de dados em pacientes com a síndrome e descobrimos comportamentos importantes que podem influenciar no risco do câncer de mama."

Esse foi o primeiro estudo que avaliou o risco de fatores reprodutivos em pacientes com SLF. O mais importante achado dessa análise foi que a amamentação por pelo menos 7 meses reduz em 49% o risco do câncer de mama nesse grupo de pacientes. "Mulheres que tem filhos e são portadoras dessa síndrome devem priorizar a amamentação", explica Dra. Maria Isabel.

A pesquisa avaliou 152 mulheres com a síndrome, sendo que, dessas, 85 já tinham apresentado câncer de mama, ou 56% do total analisado. A médica explica que os tipos mais frequentes de tumores de mama diagnosticados nessas pacientes eram hormônio positivos e HER2 positivos. Não há dados que apontem para alterações em resposta ao tratamento nessas pacientes. Ou seja, elas eram tratadas da mesma forma que mulheres que não apresentam a síndrome e as respostas às intervenções clínicas foram iguais à população geral.

Dados preliminares desse estudo apontam também para uma possível redução do risco de câncer de mama em mulheres com SLF que tem o primeiro filho em idade jovem. "A população analisada não era grande o suficiente para confirmar esses riscos, por isso, trata-se apenas de fatores indicativos preliminares, que ainda precisa ser confirmados em um grupo maior de pacientes", informa.

A Síndrome de Li-Frauleni é caracterizada por mutações no gene TP53. Esse gene é responsável pela produção da proteína p53. Essa proteína tem importante papel de supressão tumoral. Por isso, o p53 é chamado de "guardião do genoma".

"Portadores de alterações no gene TP53 devem receber o aconselhamento genético e realizar exames especificos anualmente visando a redução de risco por geneticistas para poder adotar comportamentos preventivos", explica Dra. Maria Isabel. Por isso, complementa a médica, é fundamental conhecer melhor como os fatores reprodutivos podem ajudar a reduzir o risco de câncer de mama, que é um dos tipos mais frequentes em mulheres portadoras dessa síndrome.


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