Em meio à batalha travada hoje para incluir estados e municípios na Reforma da Previdência, o governador do DF deixa sua marca
Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, entre os governadores de São Pulo e Rio de Janeiro - Foto: Renato Alve.
Aos 44 minutos do segundo tempo, a inclusão de estados e municípios no relatório da Reforma da Previdência, que estava praticamente descartada, voltou a ser uma possibilidade. O anúncio de novas negociações com esse objetivo nesta quinta-feira foi feito ontem pelo presidente da comissão especial, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), no fim da sessão. Se a Câmara aceitar essa inclusão no texto, na comissão ou no plenário, vai coroar o empenho de três personagens: o presidente da Casa, Rodrigo Maia, o governador de São Paulo, João Doria, e especialmente o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. Este último é uma surpreendente liderança surgida no cenário político nacional.
Foi Ibaneis (MDB) quem comandou os governadores e costurou um acordo que incluiu até mesmo os chefes de Executivo do Nordeste, que relutavam em apoiar a ideia. "O consenso foi criado desde a última reunião, com exceção do governador do Maranhão, que não esteve presente", confirmou o governador do DF à coluna BASE. "Quero uma reforma que resolva os problemas do país, passe credibilidade para o mercado financeiro e restabeleça a condição de investimento, para termos na área internacional a visão de que o Brasil tem capacidade de reorganizar suas contas, trazer novamente desenvolvimento, renda e emprego". Para isso, ele acredita que colocar as unidades da federação e as prefeituras no texto da reforma é essencial. "Fazer essa mudança só com a União não resolveria o problema de estados e municípios que entrariam em insolvência. Vários já estão. E esse problema cairia no colo da União".
Apesar de torcer, Ibaneis acha que mesmo que não aconteça hoje a inclusão pode ainda acontecer nos próximos dias. "Melhor que seja resolvido nesta quinta-feira, mas a Câmara tem o seu tempo. Pode acontecer também depois, no plenário", avalia. Ele não reclama do fato de o presidente Jair Bolsonaro, a quem apoiou na eleição, ter dito que não faria esforço extra para colocar estados e municípios na reforma. "O presidente fez a parte dele que foi encaminhar a proposta ao Congresso. Ele tem tido relacionamento diferenciado com o Legislativo, temos que entender a posição dele. Antes, a negociação era feita por parte da presidência, agora, não. É uma nova forma de fazer política que tem que ser respeitada". apesar da declaração, o governo teria liberado R$ 20 milhões em emendas aos parlamentares que votarem a favor da reforma.
Dono de um dos principais escritórios de advocacia de Brasília, Ibaneis Rocha foi ex-presidente da OAB do Distrito Federal e também corregedor da entidade. Se candidatou a governador na última eleição como outsider, pregando a renovação no meio político.
Depois de construir com 27 governadores o acordo sobre esse tema da reforma, Ibaneis vai encarar outro desafio que deverá chamar atenção de todos os que acompanham a política nacional: quer renovar o MDB, legenda que ficou marcada pelo estigma do fisiologismo após décadas de escândalos e proximidade do poder. "É um grande partido, está na hora de ele se renovar. Trabalhamos para isso, o resultado das urnas apontou nesse rumo", diz ele. "Estamos construindo isso de forma consensuada".
Resgatar a credibilidade da marca emedebista nem seria um feito. Seria um milagre. Mas o governador do DF parece ser um homem de fé.