Empreendedor, Higino França deixou o funcionalismo público para defender o sonho de ter o próprio negócio
Foto: Bruno Cavalcanti.
Na TV, em outdoors ou até mesmo nas paradas de ônibus… O rosto do homem que estampa a propaganda de uma rede de lojas de molduras ainda desperta a curiosidade de muitos brasilienses.
Apesar de estar há anos protagonizando as peças publicitárias da empresa, poucos conhecem a história dessa figura que se tornou marca registrada na capital. “Meu nome é Higino França, tenho 62 anos e há 30 anos estou no comando da Casa da Moldura”, diz.
Desde que fundou a empresa, em 1989, Higino faz questão de aparecer nos comerciais. E não é por vaidade. Segundo ele, essa foi a maneira encontrada para ganhar a confiança dos clientes. Uma corrente humanizada contemporânea que é ensinada aos montes em diversos cursos de marketing, mas que o empresário adquiriu intuitivamente. É um elo natural com seus consumidores, que acabam se tornando amigos.
“Coloquei o meu nome e o meu rosto em jogo. Deu mais do que certo. É uma das formas que encontrei de garantir a qualidade do meu serviço.”
Quem conhece França sabe que ele é bom de prosa, e não foge de uma conversa. De preferência tête-a-tête. Carioca de nascimento, cearense de coração e candango por opção, fez o que poucos teriam coragem: abandonou o funcionalismo público para se aventurar no empreendedorismo.
Antes de abrir a Casa da Moldura, trabalhou por anos no Ministério da Agricultura e no Ministério da Saúde. Teve a oportunidade de conhecer os quatro cantos do país a trabalho. Partilhou de momentos e negociações com várias autoridades.
Exerceu muito bem sua função como servidor do órgão. No entanto, quando tinha 33 anos, Higino já havia chegado ao topo da carreira de economista. Foi quando tomou a decisão que, literalmente, mudaria sua vida.
“Tinha uma carreira consolidada, mas não era aquilo que queria para mim. Não havia mais nada que pudesse agregar ao Ministério. Só me restava esperar a aposentadoria. Então, juntei o lado comerciante do cearense e aceitei o risco de abrir uma empresa”, destaca.
Com o apoio da esposa, Edneida Magalhães, 62, Higino ousou e se realizou profissionalmente. “Não me arrependo de nada”, garante.
Decidido em relação ao que queria, entrou no mercado brasiliense com o intuito de se tornar referência no ramo de molduras, já que a maioria das lojas que ofereciam o serviço eram vidraçarias, com pouca variedade e sem foco na arte de emoldurar.
“Quando comecei, fazia publicidade em jornal de bairro, jornal de categorias, rádio, revistas locais e nacionais, TV, banco de praça… A missão era tornar a empresa conhecida.”
Ele ainda brinca que a propaganda era tão intensa, que haviam pessoas que iam visitar a loja porque não aguentava mais ouvir a voz dele nos comerciais.
Higino defende que o mercado era tão carente no ramo que em pouco tempo a loja se tornou líder na capital. Questionado sobre arrependimentos, o economista é enfático: “o sucesso nada mais é do que uma conjugação de esforços.”
Até o topo
Antes de conquistar seu espaço, Higino França teve uma infância e adolescência cheia de obstáculos. Nasceu no Rio de Janeiro, mas com apenas três meses de vida ele e sua família se mudou para o Ceará.
Depois de uma temporada no estado nordestino, todos vieram para Brasília. “Como a maioria dos brasileiros que se deslocaram para a capital, minha família também buscava melhores condições de vida, novas oportunidades, novos horizontes.”
Ele lembra, saudosista, do período que morou em uma pensão na W3 Sul. “Não tínhamos privacidade nenhuma. Até que um dia meus pais conseguiram um quarto só para mim e meu irmão, e passamos então, a ter a nosso cantinho”, detalha. Higino e o irmão, fizeram faculdade e se formaram na capital - Economia e Direito, respectivamente.
Foi durante a graduação, inclusive, que ele conheceu a mulher que se tornara sua esposa. Fruto do casamento de Edneida e do homem de negócios, nasceram Aline, hoje com 35 anos, que é arquiteta, e Renato, com 31, nutricionista.
Destaque
Atualmente com duas lojas - uma na 706/707 Norte e outra na 410 Sul -, além de um galpão de montagem no Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN), a instituição ainda se destaca no mercado por prestar assessoria especializada aos clientes, com consultoria de arquitetura e vendedores experientes. As lojas contam com uma variedade de modelos de moldura, gravuras assinadas, espelhos exclusivos e porta-retratos e ainda produtos especiais para conservação de obras, padrão utilizado por museus.
E não fale em aposentadoria perto do empresário. A ideia nem passa pela cabeça dele. “Minha esposa sempre fala: 'Higino, vamos curtir, viajar'. E sempre respondo para ela: 'Posso curtir, viajar. Mas para de trabalhar, não'”. Contudo, há duas pessoas muito especiais capazes de fazer o homem das molduras desacelerar um pouquinho: as netinhas Mariana, 8, e Isabel, 3, filhas de Aline e Fabiano Neri. “Por essas duas, até reduzo a jornada de trabalho”, brinca.
Após 30 anos, a Casa da Moldura continua firme e forte na capital. Segundo ele, não tem segredo: preço bom, qualidade, assessoria e atendimento diferenciado. “Quando entrei nesse mercado de molduras procurei entender o meu público, e ofereci além”, pondera.
“Uma coisa é você chegar no topo. Outra, é se manter”, finaliza Higino França.
Fonte: GPS LIFE TIME