Uma das certezas da vida, a perda de algo ou alguém é marcada por sentimentos intensos que diferem de ser para ser; até a aceitação, são várias as fases, que incluem negação, raiva e barganha
Se a morte é uma das certezas que se tem na vida, passar pelo luto também é inevitável. Quando se perde alguém ou algo, seja simbolicamente ou de forma concreta, também se perde um pouco de si mesmo. Viver pode não ter mais sentido e acordar fica mais difícil. Esse é o processo de luto. Geralmente marcado por muitas idas e vindas, caos, fuga e dor. “Nós temos uma sequência a ser cumprida na existência. A gente nasce e um dia a gente morre. A morte é universal. Você não tem como não querer isso. É um fato. Então por que não busco trabalhar para aprender a lidar com esse fato inapelável que é a ideia de que um dia vamos morrer”?, questiona o psicólogo clínico Carlos Henrique de Aragão Neto, especialista em tanatologia.
A tanatologia é responsável pelo estudo da morte e do morrer. É um campo do conhecimento que se dedica à pesquisa dos aspectos psicológicos e sociais e mostra como o fenômeno da morte desencadeia reações e dificuldades nas pessoas em vários campos de atuação, como o luto, os cuidados paliativos, o suicídio, a eutanásia, dentre outros.
Aragão Neto observa que o processo difere de ser para ser. “Todo mundo entra nesse processo. Claro que cada um vai entrar do seu jeito, da sua forma, no seu tempo e às vezes não entra na mesma velocidade. Mas isso não acontece de forma linear. Você pode estar ali talvez na barganha com Deus e depois voltar a negar e ter raiva”.
“Parece que tudo o que você faz com as mãos, te cura”, diz Adriana, que usou o artesanato como uma das formas de escape para a dor do luto e fez um quadro com fotos do filho para homenageá-lo.
A primeira das fases neste longo processo é o entorpecimento. “A pessoa fica completamente desnorteada. Perde a noção de tempo e de espaço. Isso pode acontecer por horas, dias ou até mesmo anos”, explica o especialista em tanatologia. Ele cita o psicanalista britânico JohnBowlby, responsável pela Teoria do Apego, segundo a qual existe um profundo vínculo afetivo entre um indivíduo e outro ou mesmo com um fato. O estudo busca compreender a forte reação emocional que ocorre quando esses laços ficam ameaçados ou são rompidos, como no luto pós morte. “Existe um esforço gigantesco ao ponto de se alucinar para trazer a pessoa de volta, mesmo que seja simbolicamente. Depois, se dá conta de que, com todo esforço, a pessoa não vai voltar”, explica o psicólogo.
A jornalista Adriana Soares, 52 anos, sabe bem o que é isso. O filho dela nasceu já desenganado pelos médicos. Viveu por 21 anos. Quando ele se foi, a negação veio com força. Junto com ela, a revolta. “Você quer saber por quê que isso aconteceu com você, aí você nega Deus e tudo que você acredita, toda fé que você tem, tudo que você já viveu até hoje. Você não quer acreditar em nada. É uma dor tão intensa… Pode vir Deus falar com você e você não quer saber”, lembra ela. “Ficava pensado que tinha que ter alguma coisa que eu fizesse para conseguir negociar. Para tudo tem remédio… Não é possível. E aí você toma um susto, olha e pensa que não tem jeito, não tem jeito mesmo”.
Fora da memória
A estudante Amanda Reis Mattoso, 19, também sentiu isso na pele. Ela escolheu não enfrentar o luto de primeira. “É como se eu tivesse apagado. Foram três anos da minha vida que eu apaguei. Não lembro o nome dos meus professores, nem o que eu fazia”. O retorno foi lento e difícil. Ainda na adolescência, passou por todo esse processo junto com a conclusão dos ensinos fundamental e médio e dos primeiros exames seriados para o vestibular. “Foi uma fase difícil. Tudo o que acontecia na minha vida, eu usava a morte do meu pai como desculpa”.
Isabela e Amanda que ainda guardam o casaco do pai e o usam com muita saudade
Um ano mais velha, a irmã de Amanda, a também estudante Isabela Mattoso, sentiu o luto de outra maneira. “Eu me desesperei, e procurei um substituto para o meu pai logo de cara, que era meu irmão, e aí procurei escapes para não pensar naquilo. Foquei em preparar minha festa de 15 anos e me entregar totalmente à escola”, conta Isabela.
A morte está mais presente no dia a dia do que se pensa. Ela é vivida de diversas maneiras. A gravidez e o nascimento de um filho, as separações, a velhice e o fim da infância são consideradas mortes. Na verdade, tudo aquilo que se chega ao fim, que se perde, é considerado morte de algo. Cada pequena ou grande perda produz um luto que nos coloca diante da finitude. “O luto não é doença e não é a morte. É um processo psicológico que vem após uma perda importante ou significativa que pode ser uma morte concreta ou não”, conclui o especialista em tanatologia.
A estudante Paloma Albuquerque, 19, vivenciou a morte simbólica quando passou pelo fim de um relacionamento. “É mais traumático com o nosso primeiro amor, né? Que a gente se envolve mais, se entrega mais, que a gente ainda não sabe que as coisas podem dar errado”, opina. O reconhecimento do ponto final foi um processo difícil. “Quando acaba, a gente percebe que não é assim, as pessoas erram. A gente erra também e não é porque a gente ama uma pessoa que as coisas vão dar certo”, comenta.
Figura perdida
Na segunda fase descrita pelos estudiosos, nomeada como “anseio e busca da figura perdida”, são comuns as alucinações e delírios. “Eu tentava procurá-lo em todos os lugares, queria que ele estivesse aqui. Tinha vezes que o enxergava de verdade e, quando chegava mais perto, percebia que não era ele”, lembra Amanda, que perdeu o genitor, vitima de doença. Ela tinha 3 anos quando o pai descobriu um tumor no cérebro. Ele conviveu com a doença por nove anos, até falecer. A menina estava no colégio quando recebeu a notícia. “Minhas primas foram me buscar mais cedo e falaram: seu pai deu uma piorada. Naquela hora eu sabia que ele tinha ido”.
Nessa fase, o enlutado começa a assimilar devagarinho os fatos e, ao mesmo tempo, faz de tudo para sentir novamente a presença da pessoa que se foi. “Você faz um esforço gigantesco ao ponto de alucinar para trazer essa pessoa de volta, mesmo que simbolicamente”, explica Aragão Neto. Duas sensações se alternam com frequência nessa etapa: o racional tenta entender que a morte aconteceu e sofrer com a situação, enquanto o emocional tem dificuldades em aceitar. “Eu sempre pensava: vou chegar em casa e vou contar essa novidade para ela. Mas quando eu chegava, ela não estava lá. Aí bate a falta da pessoa…”, conta a publicitária, Mariana Brasil, de 25 anos, que perdeu a mãe para um câncer de pâncreas.
Depois de um tempo, se entende que, com todo esforço e alucinação, não é possível fazer ninguém voltar. E a realidade começa, aos poucos, a ser percebida. É a fase nomeada por Bowlby de desorganização, marcada por sentir o luto da forma mais aguda até reconhecë-lo integralmente. A dor da ausência aperta. É quando se busca “ficar amigo da escuridão antes de ver a luz”. A assistente social Jamilla Trevizan, especialista em cuidados paliativos, observa que esta fase costuma ser acompanhada por arrependimento e culpa. “Vem o peso na consciência. Eu sabia que ele estava ruim, por que não o visitei? Por que não estive mais do lado dele?”.
Fora do controle
O luto é um processo que foge do controle de qualquer um e não tem data certa para acabar, se é que acaba um dia. É preciso coragem para abraçá-lo e senti-lo. O que não se deve fazer é jogá-lo em uma gaveta e fingir que nunca existiu. Mais cedo ou mais tarde, sem perceber, ele volta. Três anos depois da morte do pai, Amanda se permitiu sentir novamente e abraçou a dor. “Como eu fiquei muito tempo desligada, quando eu voltei, percebi que perdi um tempo importante da minha vida, que era para eu ter me descoberto. Passei a ter muitas crises de ansiedade e a chorar muito”.
A artesã Cynara Brito, de 39 anos, passou por essa fase depois de ter sofrido uma perda gestacional. “Foi como se eu tivesse dado um pulo no escuro sem saber onde eu ia cair, porque foi realmente isso. Quando descobri que ela não tinha chance de nascer viva, foi como se tivessem tirado o chão debaixo dos meus pés, eu no escuro sem ter uma parede para encostar, para poder me apoiar”.
‘Buraco enorme’
A sensação de se perder no tempo e no espaço é comum, como relata Adriana. “Eu sentia que tinha um buraco tão grande na minha frente e imenso, com um abismo enorme e eu estava na ponta. Esse buraco, era a falta do meu filho”. Até que conseguisse sentir o luto, foi necessário algum tempo. “Aí eu vivi esse luto tanto. Vivi intensamente. Eu não deixei passar nada, não escondi de mim nada, não tapei nada com a peneira. E eu pensava que eu tinha direito. Gente, qual é? Eu perdi um filho. Eu tenho direito, sim. É um sentimento meu”.
Recém-casada, Adriana engravidou e teve uma gestação complicada. No sexto mês de gravidez, precisou fazer o parto para salvar a si e ao filho, Fernando. O menino nasceu prematuro, muito pequeno e com uma doença rara. Ele tinha mielomenigocele, o tipo mais grave de espinha bífida, quando os ossos da coluna vertebral do bebê não se desenvolvem adequadamente durante a gestação, causando o aparecimento de uma bolsa nas costas que contém a medula, nervos e líquido. Além disso, Fernando não tinha os rins.
“Os médicos falavam que ele não ia sobreviver. Eles não deram expectativas nenhuma para o Fê, chegaram a dizer que ele seria um vegetal”.
Depois de praticamente dois anos no hospital e uma série de cirurgias, Adriana e o marido levaram Fernando para casa. O menino foi crescendo, aprendeu a falar, era internado de vez em quando e vivia um dia após o outro. “Ele viveu 21 anos bem, e feliz. Claro que dentro das limitações dele. Ele foi um presente para nós. Mas a gente sempre sabia que, uma hora, ele ia embora”.
Adriana perdeu o filho para uma doença chamada peritonite, que é uma inflamação do peritônio, uma membrana que reveste a parte interna do abdômen e recobre a maioria dos órgãos da região abdominal. “Os médicos nunca acreditaram, porque o normal desses pacientes é que eles tenham pelo menos duas ou três infecções por ano. Mas o Fê nunca tinha tido nenhuma. Porém, a primeira que ele pegou, levou ele”.
A cultura de hoje muitas vezes não permite que a pessoa viva essa fase de luto e, especialmente, a fase da desorganização. Existe uma certa cobrança pela negação da dor. “As pessoas não têm tempo para nada hoje em dia. O tempo todo é para produzir. Você vai ter tempo para sentar com alguém para conversar sobre morte?”, questiona Aragão Neto.
Naturalidade
A morte já foi considerada como natural e tranquila pelo ser humano. Antigamente, era marcada por rituais e cerimônias públicas nas quais todos participavam e eram autorizados a expressar os sentimentos pela perda. Na Idade Média, por exemplo, já existiam rituais para despedidas, onde a morte era encarada como tranquila e dividida entre os familiares.
Com o passar do tempo, embora vista como algo certeiro, a morte começou a ser percebida como fracasso, colocando em evidência a impotência diante dela, em um modelo social em que todos trabalham para adiar a morte. A sociedade começou a ter dificuldade em lidar com a ideia de finitude e passou a ter uma busca incessante pela imortalidade. “As pessoas querem viver 150 anos a qualquer custo, nem que seja vegetando. Se alimenta insanamente a questão da Juventude. As pessoas ficam pensando: como uma mulher como eu posso ter 50 anos e ter o corpo de 20”, analisa Aragão Neto.
‘Fast funerals’
Os “fast funerals” ou funerais rápidos, que encurtam etapas como velório e cerimônias, são exemplos da tentativa de contornar a dor. “No passado, você iria em um velório de dois dias. Hoje em dia, dura duas, três, quatro horas e muitas vezes o parente está aqui do lado e não tem nem tempo para vir se despedir”, acrescenta o psicólogo.
É a cobrança social para se evitar a vivência do luto. “É preciso seguir em frente”, “foi melhor assim” são frases que buscam consolar, mas evitam que as pessoas extravasem o que sentem de fato e as obriga a seguir com a vida como se nada tivesse acontecido. “Todo mundo dizia ‘não chora que para ele é pior’. Gente é muito doloroso e torturador, porque a pessoa tem que chorar, tem que sofrer, tem que viver aquilo. Como é que eu não ia chorar? É a perda de um filho, de alguém que você ama. É desumano para quem fica”, observa Adriana. “A sociedade não deixa a pessoa se enlutar”, completa Aragão Neto.
Se o luto é um processo, a escuridão do luto é uma experiência necessária. É um tempo natural de depressão, de quietude, de instabilidade e de dor. Mas, mesmo nesta etapa de escuridão, se deve alcançar pequenas clareiras. Para Adriana, foi o momento de se aprender a cuidar da dor, a compreender que era algo dela que não poderia dividir e que teria que aprender a lidar. Foi quando ela buscou ajuda. “A médica virou para mim e disse: Esse buraco que você está sentindo é o vazio que ele deixou. Você vai ter que amar esse buraco. Vai ter que aprender a conviver com ele. Olhar para ele com amor e saber que esse buraco agora existe”.
Datas importantes
As datas importantes parecem ampliar a perda. Passar por um dia que seria considerado feliz em outras circunstâncias, sem ter, pelo menos, uma pontinha de saudade é normal. “O aniversário dele, Natal, Ano Novo e Dia dos Pais. Essas quatro datas, para mim, são as que a saudade aperta um pouco mais. Eu me lembro no dia a dia, posso lembrar da presença dele e tudo mais, porém dói menos do que nessas datas. A dor fica mais forte e eu fico mais emotiva”, conta Isabela.
Mariana lembra como foi o dia da formatura de publicidade. “Foi o pior dia da minha vida. Todo mundo que falava comigo: ‘Ah, sua mãe ia estar muito feliz, ía gostar muito de estar aqui’. Todo mundo sentiu falta dela ali. Acho que ficou esse clima na família toda”. Esses sentimentos em datas comemorativas são comuns. Aquele que se ama segue para sempre na memória. É preciso reaprender a conviver com esses dias e vivenciá-los de um jeito diferente. “Aquela pessoa passou pela sua vida e vai deixar uma marca, de preferência cicatrizada, porque se ficar aberta ela infecciona. Então, vão ficar as memórias, as recordações, as lembranças…. Eventualmente, uma data significativa e vai ficar um pouco mais triste, uma música, um lugar”, explica Aragão Neto.
Todo esforço enquanto a pessoa ainda está viva é válido. “É preciso lembrar que nos momentos que podia estar perto, você estava. As broncas que tinha que levar, levou. E sempre lembrar da pessoa nos momentos felizes. Eu nunca gostaria que lembrassem de mim em uma hora triste, sempre quero que alguém lembre de mim brincando, contando piada, dos momentos bons que a gente passou junto”, complementa Jamilla. Cynara, que viveu com a filha Melissa por nove meses no ventre, aconselha a sentir ao máximo cada momento. “Mesmo com tudo o que eu fiz, eu poderia ter me dedicado mais, feito coisas que não fiz. Se você não tem certeza se vai ter ou não o seu filho nos braços, curta o máximo e ame o máximo porque cada minuto é precioso”.
A artesã foi surpreendida por uma gravidez não planejada aos 36 anos. Era um namoro recém-iniciado e, na primeira vez que tiveram uma relação sexual, Cynara engravidou. Quando deu a notícia ao namorado, ele começou uma série de questionamentos e acabaram terminando. Com cinco meses de gestação, descobriu que a gravidez tinha poucas chances de se concretizar e o bebê poderia não sobreviver “Sentaram comigo e disseram para eu me preparar por que ela não tinha chance nenhuma, que a qualquer momento, ela podia morrer dentro da minha barriga. E se ela vivesse, veria alguns minutos só”.
O tempo foi passando e Cynara chegou aos nove meses de gestação. O bebê Melissa, tinha cinco deficiências graves no coração, duas no cérebro, aparelho digestivo com má formação e lábio leporino. Prestes a completar 40 semanas de gestação, sentiu que algo estava errado e foi ao hospital. Melissa tinha morrido. O parto normal foi induzido e Cynara teve a chance de segurar a filha nos braços. “Fiquei com ela meia hora e, assim, é um momento que eu nunca vou esquecer. Foi uma coisa muito forte, a lembrança do corpo dela nos meus braços, marcou demais”, conta, emocionada.
Tatuagem feita em homenagem a filha de Cynara, que passou por uma perda gestacional aos nove meses.
Ombro amigo
O luto como processo individual está diretamente ligado ao social. O indivíduo está inserido num contexto que exerce influências sobre os sentimentos. Depois dos primeiros dias após a morte, as outras pessoas voltam para as suas vidas e é comum se evitar falar sobre o assunto. Depois do enterro, do fim simbólico, vem o silêncio. “Eu notava que algumas pessoas fugiam. Outras perguntam: Como você está? E na hora que você vai falar, mudam de assunto. Então ela estava esperando você dizer: ‘estou bem’. Mesmo sabendo que você não está. E quando você vai dizer que não está bem, ela corta imediatamente”, lembra Adriana.
Quando se evita falar sobre, quando se tenta mudar de assunto ou se diz: “Você precisa seguir em frente”, contribui-se para a interrupção de parte do processo. Não é possível dividir a dor. Mas ter empatia e conversar sobre as perdas é essencial. “Eu lidei com a dor do que eu senti, principalmente me apoiando em amigos. Eles me mostravam que podia seguir em frente, ser maior do que aquilo que estava sentindo. Amigos que não julgaram minha dor e estiveram sempre lá, para entender e auxiliar”, lembra Paloma, quando teve o relacionamento desfeito.
Falar é solução
A grande diferença é estar presente em todo o processo de luto e não só no da despedida. “Quando eu converso, eu me escuto, eu me entendo e aí procuro resistência e força para dar continuidade à minha vida. Falar é a melhor solução. Então quando você fala, se acalma, se alivia, isso te dá condições de elaborar uma melhora”, explica Gilson Aguiar, voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) em Brasília. A entidade atua no apoio emocional e na prevenção ao suicídio e, entre os atendimentos, está o Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio, destinado a familiares e amigos das pessoas que se mataram.
O apoio em grupo também foi o caminho de Cynara. Ela participa do Grupo Mãe de Estrelas, que tem o objetivo de propiciar a troca de experiências das que passaram pela perda gestacional. “É um grupo de mães que querem aliviar um pouco a dor, compartilhar as experiências. As coisas que são compartilhadas acabam fortalecendo a todas”.
Não precisa de muito, apenas estar presente. Nos momentos das primeiras risadas ou de dor intensa. Ouvir sem julgamento. “Se as pessoas tivessem noção do quanto podem ser úteis, só ouvindo, estando do lado. Só o fato de poder ligar a hora que quiser e sem cobrar. Poder contar com aquela pessoa é maravilhoso” conta Adriana, que teve na família e nos familiares o apoio que buscava. Com a fase da organização, o caminho é investir a energia em outras relações e compreender que é possível continuar. “A pessoa fica num movimento entre a dor e a vida, entre a dor e a restauração. Com o tempo, a bolinha da dor vai diminuindo progressivamente e a da vida vai aumentando, até que chega uma hora que a bolinha da dor vai virar uma saudade, uma marca”.
“Esse quadro transmite o amor do hospital e de todos os pacientes que passam por aqui”, diz Jamilla, ao apresentar o quadro que possui um recado de algumas pessoas que já passaram pelo hospital.
É importante haver uma reconciliação entre a dor e a morte. Uma hora, a tristeza e a dor encontram o seu lugar e o que resta é a saudade. Isabela, que sofreu intensamente o luto pela perda do pai, procura lembrar os momentos bons, os aprendizados. Ela cita como inspiração o escritor brasileiro José Mauro de Vasconcelos, autor de Meu pé de laranja lima: “Aprendi com a vida que você não morre nem de saudade e nem de sofrimento”. A literatura também é usada por Adriana. “É como dizem: a saudade é o amor que fica”, conclui.
Onde procurar ajuda?
- CVV (Centro de Valorização da Vida)
Apoio emocional e prevenção ao suicídio por telefone, chat, Skype ou presencialmente. Contato: cvv.org.br ou 141
- GASS
Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio. Vinculado ao CVV, tem o objetivo de reunir e amparar pelo diálogo pessoas que foram afetadas pelo suicídio. Os encontros são presenciais, sigilosos e gratuitos. Asa Norte (última quinta-feira do mês, das 18h45 às 20h45, na EQN 303/304) ou Taguatinga (última sexta-feira do mês, das 19h30 às 21h30, na QNJ – Área Especial 06, Taguatinga Norte). Outras informações por gassbrasilia@gmail.com.
-Vamos Falar sobre o luto?
Cinco amigas que passaram pelo processo do luto se reuniram e criaram uma plataforma digital de inspiração e informação para quem vive o luto também. Acesso em www.vamosfalarsobreoluto.com.
- Grupo Mães de Estrelas
Uma vez por mês, mulheres que passaram por perda gestacional se reúnem para trocar experiências e apoio. O local e o dia desses encontros variam. Para participar, basta contactar via Facebook (@maesdeestrela) ou pelo telefone 9 9301-4884.
- Você por você
Você também pode ser um ponto de apoio para as pessoas que estão passando pela dor. Se você tem algum familiar ou amigo passando por isso, acolha-o com empatia e escute. Às vezes é tudo que precisam.
As diferentes teorias sobre o luto
- EDWARD JOHN MOSTYN BOWLBY: nascido em Londres, atuou como psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico. Desenvolveu a Teoria do Apego a partir do estudo do vínculo desenvolvido por recém-nascidos com as mães e outros cuidadores. Pela teoria, apego significa um vínculo afetivo ou ligação entre um indivíduo e uma figura e o luto é composto por quatro fases:
Entorpecimento: Fase inicial em que a pessoa encontra- se em estado de choque, marcada por explosões de aflição.
Anseio e busca da figura perdida: o enlutado vivencia um misto de raiva e culpa. Racionalmente, tenta entender que a morte aconteceu, mas tem dificuldades em enfrentá-la.
Desorganização e o desespero: O sentimento de culpa e a falta da pessoa ocupam um alto grau na vida do enlutado, deixando-o desorientado.
Reorganização: O enlutado começa a entender melhor a situação e passa por um processo de reorganização da vida.
- ELIZABETH KÜBLER–ROSS: No livro Sobre a Morte e o Morrer lista os cinco estágios do luto pré-morte, resultado da observação com pacientes terminais: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
Negação: “Isso não pode estar acontecendo comigo”. Todos os pacientes ou familiares passam por uma espécie de defesa temporária, onde se recusam a aceitar a notícia.
Raiva: “Por que isso está acontecendo comigo?”. Entra o sentimento de revolta, e o indivíduo se sente injustiçado pela situação.
Barganha: “Se o senhor me curar, vou ser uma pessoa melhor”. A pessoa já negou e se revoltou, e percebeu que não funcionou. Então, começa a negociar (geralmente com Deus), e a fazer promessas.
Depressão: “Não posso suportar a ideia de morrer”. A depressão não é a clínica conhecida hoje. É uma fase de tristeza profunda, melancolia e isolamento.
Aceitação: “Estou pronto”. Nesse momento, existe certo grau de “tranquila expectativa”, que não se deve confundir com um estágio de felicidade. É o estágio em que o indivíduo entende a situação que se passa e se prepara.
Por Bianca Andrade.
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