Entrevista com o governador de Goiás, Marconi Perillo

Árduo defensor do apoio do PSDB a Michel Temer, o governador de Goiás, Marconi Perillo, 54 anos, acha que o partido tem sido injustamente acusado de golpista. Ele diz que os tucanos resolveram ficar ao lado do governo peemedebista para salvar o País do “desastre da gestão petista”

Em troca, o partido pediu a fixação da agenda de reformas e a retomada do desenvolvimento, dentro de um projeto de transição para levar a nação às eleições de 2018. Eleito para o cargo de governador quatro vezes, Perillo acredita que a sociedade até pede uma renovação na política, mas adverte os que desejam essa mudança: “Muitas vezes o que é considerado novo já nasceu velho, e rapidamente apodrece”. Como uma das mais influentes lideranças do PSDB, ele reconhece que o partido cometeu alguns erros, mas não o suficiente para pedir desculpas à sociedade, como fez o programa de TV da agremiação que foi ao ar na última quinta-feira 17. “O programa foi um equívoco”. Ele afirma que o PSDB mais acertou do que errou e descarta a necessidade do partido ser refundado.


O senhor defende a continuidade do apoio do PSDB ao governo Temer ou deseja o desembarque do governo peemedebista?

O PSDB foi o principal protagonista da condução do impeachment do governo do PT e, consequentemente, da ascensão do presidente Temer ao poder. Por esta razão, tem sido injustamente acusado de golpista pelos petistas. É claro que o PSDB tomou esta decisão em função do desastre da gestão petista, que afundou o País na mais grave crise econômica, social, ética, moral e política de nossa história. A contrapartida requerida pelo PSDB foi a agenda de reformas, parte delas já aprovada, e a retomada do desenvolvimento econômico do País. O governo Temer é de transição, estabelecido e apoiado por todas as forças políticas que desejam a superação da crise econômica e as reformas sem as quais o País não vai conseguir fazer a travessia que precisa até as eleições presidenciais de 2018.


Importantes governadores do seu partido, como Geraldo Alckmin, acham que o PSDB tem que deixar o governo. O senhor entende que há um racha no partido em relação a esse tema?

O PSDB continua apoiando as reformas modernizantes e a agenda econômica com foco na retomada do crescimento. A página do resultado da votação no Congresso está virada e agora o PSDB tem de dar um suporte para a aprovação das reformas. É isto que interessa ao País. A construção de uma agenda, com otimismo, foco no resultado, no crescimento da economia, na geração de emprego, na manutenção do controle da inflação e da continuidade da queda dos juros. Esse é o caminho e é isso que o presidente Temer tem demonstrado estar disposto a fazer.


Na votação sobre a admissibilidade ou não do processo contra Temer, a metade da bancada tucana votou contra o presidente. O senhor acha que esses deputados podem voltar para a base governista?

Entendo que o posicionamento se deu de forma específica em relação a uma autorização para investigação e não para uma destituição ou mudança de governo. Ninguém ali votou pelo retrocesso na transição que fomos obrigados a adotar para conduzir o país até as eleições de 2018. O voto a favor do presidente, a meu ver, se deu por conta da preocupação de muitos em relação às consequências do afastamento de mais um presidente, no momento em que o País dava sinais da retomada do crescimento e do avanço nas reformas.


O governo Temer é de transição, apoiado pelas forças políticas que desejam a superação da crise econômica e aprovação das reformas 

No caso das reformas, a bancada tucana deverá permanecer unida, votando com o governo?

Não tenho a menor dúvida. A agenda de reformas é uma agenda histórica do PSDB, que começou no governo Fernando Henrique Cardoso e foi abandonada por seu sucessor.


O senhor acha que os parlamentares que ficaram contra Temer estão preocupados com a opinião pública, já que no ano que vem terão que se reeleger?

Pode ser em parte. Acredito que este aspecto pesou sim, mas o resultado mostra que cada parlamentar votou segundo sua convicção.


O senhor acha que é possível manter a aliança entre o PSDB e PMDB para 2018?

Eu já disse que o PSDB não poderia deixar o governo sem apresentar uma tese, uma explicação para os brasileiros. O Brasil não pode se resumir ao debate sobre impeachments. Do ponto de vista das alianças, o que deve nortear as composições é exatamente essa agenda de reformas e avanços. Precisamos definir de uma vez por todas a direção do nosso crescimento, para onde queremos ir. O PSDB passa por um processo de intensa discussão interna que deve culminar com um grande encontro nacional no fim do ano e do qual deverá emergir uma carta compromisso com os brasileiros, apoiada na sua trajetória, nas suas experiências de governos e no seu comprometimento com a modernização e o crescimento do Brasil.


Essas denúncias abrem espaço para políticos novos?

Existe uma expectativa nos meios políticos de uma forte renovação. Mas, toda eleição traz este clima e cria esta expectativa. E nem sempre o nível de renovação é tão alto. Muita coisa ainda pode ocorrer de forma a influenciar esta previsão, inclusive e seguramente muito importante, as regras que vigorarão a partir das mudanças na legislação eleitoral que estão em andamento. Por outro lado, muitas vezes, o que é considerado novo já nasceu velho, e rapidamente apodrece.


Como está a disputa para a corrida presidencial no seu partido? Os candidatos até então mais cotados, como Aécio Neves, foram atingidos pela delação da JBS. Quem o senhor acha que tem mais chance hoje?

O PSDB está vivendo um processo interno muito salutar de debate de teses. O que alguns classificam como divisão, como racha, pode ser visto também sob o prisma do debate, para a construção de um consenso. Mesmo diante dessa crise sem precedentes, o PSDB é o partido que tem o maior número de nomes para a sucessão presidencial. Isso mostra a importância do partido no processo político, no debate sobre os rumos do País e no processo eleitoral. Eu tenho dito sempre que, caso não consigamos consensualmente escolher um nome, temos de usar o instrumento democrático das prévias.


Em São Paulo, se avizinha uma disputa entre governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria. Qual dos dois o senhor acha que tem mais chances?

Ambos são excelentes nomes à disposição do PSDB para a disputa presidencial e ambos com chances reais de vitória, por suas trajetórias, posicionamentos políticos e pelas ótimas referências como administradores públicos. Alckmin e Doria estão unidos em torno do mesmo projeto para o Brasil. Alckmin, que é reconhecido várias vezes como tendo feito grandes governos e o prefeito Doria, iniciando a administração da maior cidade do Brasil, como um líder criativo, corajoso, modernizante, realizador e competente.


Quando se fala em candidaturas alternativas, até o seu nome é lembrado. O senhor tem esse projeto de disputar a presidência?

Fico muito honrado e feliz quando meu nome é citado. Recebo isso como um sinal de reconhecimento e respeito pelo que temos feito por Goiás.


O candidato a ser batido, segundo as pesquisas, é Lula. Quem o senhor acha que hoje tem mais condições de derrotar o petista?

As pesquisas ainda não refletem todo o grau de comprometimento com a mudança, nem o forte rigor com que serão avaliados os políticos, especialmente aqueles que têm contas a prestar na condução do País para a maior crise econômica, social e política que já enfrentamos. Nas últimas eleições, o PSDB já alertava os brasileiros em todos os Estados para as dificuldades que iríamos enfrentar por conta das irresponsabilidades fiscais dos governos petistas e de suas ideologias demagógicas e populistas. Não acredito que depois, deste de todo este processo para passar o Brasil a limpo, que tem demonstrado toda a sua abominação pela política tradicional clientelista, de aparelhamento do Estado, o País vá caminhar em direção ao retrocesso. Mas adoraria ver o PSDB disputando a eleição tendo como adversário o ex-presidente Lula.


Como o senhor vê o racha do partido em torno do programa que foi ao ar quinta-feira, em que o partido fez mea-culpa sobre seus erros?

Houve um equívoco nesse programa. As lideranças do partido não foram ouvidas e, portanto, não puderam dar opinião. Este foi um grande erro.

Alckmin e Doria são excelentes nomes à disposição do PSDB para a disputa presidencial e ambos com chances reais de vitória 


Quais são os erros que o partido cometeu?

Todo partido do tamanho e da importância do PSDB comete erros e acertos, como nós, seres humanos, também cometemos. Acho que os acertos do PSDB são maiores que seus erros.


O senhor acredita que o PSDB precisa reconhecer erros por ter recebido dinheiro sujo de empreiteiras e empresas como a JBS?


Como reconhecer o que é dinheiro sujo ou dinheiro limpo numa doação ao partido feita por pessoas jurídicas legalmente constituídas? Independentemente dos erros que nosso partido e seus membros tenham incorrido, e considerando as contribuições que o PSDB vem dando ao Brasil desde a sua fundação, em 1989, precisamos – e está na hora – fazer uma profunda avaliação do nosso desempenho e de nossas bandeiras. Não se trata de uma necessidade de refundação, mas de uma reflexão profunda sobre suas teses e propostas.


O senhor acha que o partido precisa pedir desculpas aos eleitores?

Integrantes do partido que eventualmente tenham cometido erros ou desvios de conduta, claro que sim. Parto dessa premissa de que o PSDB acertou muito mais do que errou.


Qual é a sua avaliação sobre a proposta de reforma política em discussão no Congresso, sobretudo em relação à criação do fundo público de R$ 3,6 bilhões para financiar campanhas eleitorais?

Não gosto da ideia de utilizarmos dinheiro público para eleições. O Brasil deveria copiar as legislações das democracias mais consolidadas e respeitadas no mundo. O financiamento privado, desde que muito bem regulamentado e eficazmente fiscalizado, poderia ser um caminho.

Fonte: Revista Época.

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