Artigo: Viver Brasília

Por Rodrigo Rollemberg


Quando se pergunta a apaixonados por Brasília, como eu, do que mais gostam na capital do país, brotam várias respostas. Difícil de mencionar um único aspecto



Há quem goste do verde, do céu azul, das superquadras, do lago que parece abraçar o território, da qualidade de vida das diversas cidades, do horizonte que nos une, da facilidade em se criar filhos ou da gente vinda de todos os estados para aqui fundir os hábitos e o jeito de falar numa nova identidade. Brasília é mesmo singular. Nasceu moderna do traçado genial do urbanista Lúcio Costa e dos contornos exuberantes projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

É fruto da ousadia do presidente Juscelino Kubitschek, que executou a ideia concebida ainda no Brasil Colônia de trazer a capital do país para o Planalto Central e, partindo do zero, a construiu em pouco mais de três anos. Frequentemente, JK aparecia nos canteiros de obras, animando os candangos. Certa vez, ao perguntar a um deles que misturava massa de cimento o que estava fazendo, ouviu: “estou construindo uma cidade”. JK sorriu generosamente, percebeu que aquele brasileiro, embora bastante simples, tinha noção da importância daquela jornada histórica.

Da idealização à construção, Brasília sempre esteve na vanguarda. Atualmente, já se fala que a Missão Cruls produziu, ainda no século XIX, o primeiro EIA-Rima da capital ao qualificar a área em formato de quadrilátero, onde mais tarde, com ajuda de imagens aéreas, o Relatório Belcher apontou o sítio Castanho como o mais apropriado à construção do Distrito Federal.

Em 1987 e aos 27 anos de idade, Brasília tornava-se a cidade mais jovem e a única construída no século XX a ser reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Hoje, ao completar 57 anos, continua ostentando a maior área inscrita na lista da Unesco como conjunto urbanístico individual.

Às vésperas do aniversário, Brasília ganha, de novo, reconhecimento internacional e que aumenta muito a nossa responsabilidade. Desta vez, o motivo é a concepção e execução de política pública na área de segurança. Três dias atrás, a União das Cidades e Capitais Ibero-americanas – UCCI declarou Brasília “capital ibero-americana da paz.

O título é um prêmio ao Viva Brasília - Pacto pela Vida, programa com foco em prevenção e fomento à cultura de paz, que vem reduzindo significativamente a violência em dois anos de governo. A taxa de homicídios que, em 2014, era de 24,3 por cada grupo de 100 mil habitantes caiu a 19,7 no ano passado, a menor em 23 anos. O sucesso do programa continua. A soma do número de homicídios caiu 22,8% nos três primeiros meses, comparado a igual período de 2016. Ainda estamos muito longe do ideal, mas o reconhecimento da UCCI nos anima a seguir no rumo certo.

Neste ano, comemoramos outro marco inovador na história de Brasília: o concurso internacional realizado 60 anos atrás, com participação de notáveis urbanistas, arquitetos e artistas, para a escolha do projeto urbanístico que deu forma à cidade.

O Lago Paranoá, item obrigatório naquela disputa, será agora objeto do segundo mais importante concurso da capital. Colhemos subsídios para elaborar o termo de referência deste concurso em consulta e reuniões públicas. Ouvimos da população o que quer de intervenções na orla do Lago Paranoá. A democratização do uso do lago, apoiada por 80% dos moradores, resgata o espírito de vanguarda de Brasília e sua escala bucólica. O lago é nossa praia e praia tem de ser de todos.

Áreas carentes, como Sol Nascente, Buritizinho e Porto Rico, também são alvos prioritários de políticas públicas e estão recebendo redes de esgoto e de águas pluviais e pavimentação, transformando comunidades precárias em cidades com qualidade de vida. Mesma estratégia aplicada em Vicente Pires. 

A nossa responsabilidade com Brasília passa também por investimentos em obras estratégicas para enfrentar a crise hídrica e tornar a capital menos dependente da Bacia do Descoberto. Após 16 anos sem investimentos em captação e tratamento de água, estamos construindo a Estação de Tratamento de Água e adutora de Corumba IV, além da captação do Sistema Bananal e do Lago Paranoá. Também estamos revitalizando os canais utilizados para irrigação pelos agricultores na Bacia do Descoberto.

Igualmente importante são o combate à grilagem e a legalização de lotes. Do início do governo até o momento, entregamos 25 mil escrituras, a maior soma de todos os governos, colocando cerca de 100 mil pessoas na legalidade. Quem quer empreender encontra ambiente mais propício, a simplificação da abertura e do encerramento de empresas que adotamos virou modelo no país, tendo adesão imediata do prefeito João Dória que o replicará em São Paulo.

É preciso ressaltar ainda que tudo isso vem sendo realizado em cenário de grave crise econômica do país. Mas, com muito esforço e muito trabalho, mantemos as contas equilibradas, quitando dívidas herdadas e pagando salários dos servidores sem atraso, enquanto outras unidades da Federação mergulham em caos financeiro. Este é outro presente para a capital, possível porque à frente do governo está uma geração de Brasília, técnicos capacitados e comprometidos que amam a cidade. Isso é cuidar de Brasília.

Essa quase sessentona acolhe hoje cerca de 3 milhões de pessoas. Convido cada um e cada uma e também turistas a aproveitarem o feriado de aniversário ou qualquer outro dia de folga para circular pelas ruas e viver Brasília, em suas dimensões monumental, residencial, gregária e bucólica. É algo inesquecível!


  Rodrigo Rollemberg - Governador do Distrito Federal.

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